quarta-feira, 29 de outubro de 2008

- É isso mesmo, eu preciso voltar pra casa.

E aí, enquanto olhava pros meus pés, pela minha incapacidade e completa falta de coragem de olhar nos olhos dele, eu pensava naquela loucura toda. Eu sempre fora totalmente contra essas pessoas que fazem absurdos quando estão apaixonadas. Eu escutei a minha própria voz de desprezo dizendo o jargão que eu sempre usava pra referir aos românticos incuráveis do mundo: “é que o amor move a vida dela, sabe?“. Eu nunca entendi as pessoas que moviam seus mundos pelo amor. Que se mudavam de cidade, saíam do emprego, faziam tatuagens imensas, abandonavam a própria vida... e agora, pra mim, dessa listinha aí, só tava faltando a tatuagem! Eu tinha me transformado numa dessas pessoas que eu considerava tão fracas, eu tinha deixado o amor mover a minha vida. Pior! Eu tinha deixado uma paixão arrebatadora mover a minha vida. Sem racionalidade, sem experiência, sem conhecimento de causa. Eu tinha virado um monstro!
Mas naquele momento, ali naquela hora em que eu surtava e ele me esperava voltar ao mundo real, silenciosamente do meu lado (só então eu vi que ele não falava nada), o meu medo maior era ainda mais complexo que esse. É que de todas as partes do meu corpo, eu só conseguia sentir o meu ombro esquerdo. Era ali que a mão dele estava. Ele se levantou, me deu a mão e me puxou pra cima, pra que eu também me levantasse. Eu me levantei em estado de choque ainda, com os olhos cheios d’água, e ele disse:

- Calma, linda. Eu te entendo e você tem toda razão em ter medo assim. Mas não precisa decidir nada agora, você acabou de chegar. Você vai resolver isso, ou melhor, a gente vai resolver isso. Junto. Uma coisa de cada vez. Vamos pegar suas malas?
E me beijou na testa, passou o braço pela minha cintura e caminhou comigo de volta em direção à sala de desembarque. E eu agora só sentia, de novo, a parte das minhas costas em que estava a mão dele, e era impossível não reconhecer o alívio e a paz que eu sentia, em todos os meus poros, por saber que ele tava ali me protegendo, que ele tava ali comigo, que ele era... meu.
Mas era mesmo? Quando percebi a capacidade dele de me acalmar, de me fazer esquecer o medo, quando vi que eu iria a qualquer lugar do mundo com aquela mão nas minhas costas, quando percebi o poder que aquele cara que eu mal conhecia tinha sobre mim... eu me desesperei. Dessa vez um desespero calado, silencioso, contido. Uma parte sussurrante de mim falava baixinho que eu não podia fazer aquilo, não podia mudar a minha vida por um cara, fosse ele quem fosse. Nem se a gente se conhecesse a anos, nem se ele fosse o príncipe mais encantado, nem que ele fosse... ele.
Ele buscou as minhas malas, girando sozinhas na esteira de bagagens, colocou num carrinho que ele empurrava sem fazer força nenhuma, com uma das mãos. A outra estava, ainda, na minha cintura.
A gente entrou no carro dele, a gente foi pro apartamento dele, a gente subiu com as malas, eu tomei um banho. E jantamos, e ficamos sentados no sofá, juntos vendo TV e falando sobre tudo, menos sobre nós. E eu nem sei dizer o que sentia ou pensava durante todo esse tempo, simplesmente porque resolvi bloquear. E não analisar mais, pelo menos por enquanto. Eu passei horas e hora sem pensar em nada, porque eu não podia fazer contato com mais nenhuma dor e mais nenhum medo naquele momento. Era demais pra um dia só.
Quando fomos pro quarto dele, que ao que tudo indicava, era o meu quarto também, eu nem parei pra pensar que aquela era a primeira vez que fazíamos aquilo. Que entrávamos juntos no nosso quarto. A primeira do que podiam ser muitas e muitas vezes. A primeira vez do resto da vida, quem sabe?
Mas a gente não se deitou. Ele me sentou numa cadeira, virada pra cama, e se sentou, na beirada da cama, na minha frente. E começou a falar, segurando as minhas duas mãos nas dele.

- A gente não precisa conversar enquanto você não quiser. Você não precisa nem dormir comigo
enquanto não quiser. É o que eu te falei no aeroporto, linda: você tem toda razão em ter medo disso que tá acontecendo. Eu também nunca me joguei de cabeça assim, eu também nunca me entreguei pra ninguém desse jeito. Eu acho que... nunca senti isso antes. E as coisas nunca foram tão simples na minha vida também, tão naturais. Eu só quero que você saiba que, independente do que você sentir e pensar, independente do que você decidir daqui pra frente, eu não vou correr. Nem do que eu tô sentindo, nem de você, nem de tudo que a gente pode viver junto. Eu também tenho medo, mas eu não vou fugir. E eu vou entender, vou ficar muito mal, mas vou entender... se você quiser fugir. Mas eu tô aqui, de cabeça, nesse relacionamento. Pro que der e vier. E eu não vou a lugar nenhum.


Os meus olhos se encheram de água, e eu tentei controlar, mas era impossível. Eu me levantei, ele se levantou. E com toda a força que consegui reunir, eu empurrei o peito dele, com as duas mãos, até que ele caísse na cama. E quando caiu, meio assustado, meio sem entender, eu sorri de leve, mordi o canto do lábio, apaguei a luz e subi em cima dele.
O resto? O resto vocês já sabem.

Naquela primeira noite na “minha nova casa”, eu não dormi.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Depois daquela notícia, tudo o que eu sentia era um frio na barriga. Normalmente, depois de uma noite daquelas eu deveria sentir tesão, empolgação, um calor e uma vontade louca de encontrar com ele de novo. De ficar à sós. De ter aquele fluxo perfeito todos os dias. Mas não. Todo o frio na barriga que eu sentia era de medo.
Eu não estava preparada para mergulhar de cabeça em uma paixão maluca, mudar de cidade atrás de uma pessoa que eu tinha acabado de conhecer. Eu não estava preparada para me envolver.
Todos os relacionamentos em que eu resolvi me meter desde que eu tinha 10 anos de idade tinham sido um fracasso. Eu tinha vocação para fazer as coisas darem errado. E me mudar com ele seria um passo muito grande.
Ele queria uma resposta bem imediata, como se eu fosse obrigada a tomar a decisão de morar com uma pessoa em questão de 2 dias, mas eu não tinha essa capacidade, então eu protelei. Pedi que ele voltasse para a casa dele e me deixasse em casa pensando.
Então, dias depois ele retornou para a Cidade Maravilhosa e eu fiquei como uma múmia, andando pela vida. Passava a noite acordada pensando na decisão que deveria tomar, trabalhava de forma automática, esquecia de comer e falava com ele cerca de 3 vezes por dia.
Ele estava sempre na praia, tomando sol, comendo uma saladinha ou tomando uma água de coco. O trabalho dele era cuidar do corpo esculpido e do bronzeado perfeito.
Cada vez que ele me dizia que estava na Lagoa Rodrigo de Freitas e eu estava sentanda na frente de um computador com uma calça jeans apertada e um sapato que fazia meu pé transpirar, eu pensava que queria estar ao lado dele. Eu comecei a enlouquecer.
Até o dia que ele me ligou e disse: "Eu arranjei um emprego para você. Não é grande coisa, mas é um bom começo. Eu moro próximo à um shopping e descobri que tem uma agência de viagem precisando de gerente, indiquei você, porque sou conhecido do dono lá e ele aceitou minha idéia. Você precisa vir imediatamente".
Eu nem pensei no que eu estava fazendo, pedi minha demissão, liguei para os meus pais, separei tudo o que cabia dentro de todas as minhas malas e resolvi partir. Comprei uma passagem para o dia seguinte com destino ao Rio de Janeiro.
No dia seguinte, fiz meu check-in e fiquei sentadinha naquelas poltronas geladas do aeroporto, um monte de estranhos passando na minha frente e eu estava suando frio, meus pés estavam gelados e comecei a me sentir um pouco enjoada. Quando chamou meu voo, eu fui andando com a minha bolsa no ombro, segurando a minha frasqueira cheia de perfumes e hidratantes, pensando em todas as coisas que eu estava deixando para trás.
Sentei no meu banco e depois que o avião decolou, antes de iniciar o serviço de bordo eu já estava solicitando atendimento à comissária porque eu precisava de um copo dágua. Pânico. Eu estava entrando em pânico.
Minha vista começou a embaçar, eu estava tremendo.
Quando o avião pousou eu sai automaticamente, deixei minhas malas na esteira e corri para o portão de desembraque, eu queria respirar, o ar condicionado estava me sufocando. Eu passei por todas as pessoas que estavam esperando o desembarque de passageiros e sai correndo pela porta de vidro. Sentei do lado de fora em uma mureta e comecei a respirar muito ofegante. Meu pulmão se encheu com o ar quente e úmido do Rio de Janeiro. Parecia que eu tinha ficado mais pesada depois de colocar ar dentro de mim.
Coloquei as mãos no rosto, meus olhos estavam mareados e cheios de lágrimas.
Eu estava tremendo e de repente escutei uma voz ao meu lado: "O que está acontecendo com você, lindinha?", era ele. Meu deus grego, sentado do meu lado, me olhando com os olhos mais brilhantes que eu já vi, com uma camiseta verde que deixava o tom da pele dele ainda mais lindo e dourado. Mas eu não conseguia racicionar. Então eu disse:
- Isso tudo é um erro. Eu não deveria estar aqui. Vou voltar para casa!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ele pagou a conta e, enquanto saíamos do bar, ele perguntou se eu estava de carro.
Sabia... ele não tem carro. Pensei. Tenho a sina de carregar todos os homens por quem me apaixono para cima e para baixo. Tudo bem, por ele tudo bem.
- Sabe, como eu já te falei, sou carioca. Estou aqui há poucos dias e logo voltarei para o Rio. Por isso achei que não valia a pena vir de carro. Mas, se você preferir posso chamar um táxi. Estou hospedado na casa de um amigo, aquele do bar... lembra? Pensei que talvez pudéssemos ir para um hotel que tem lá perto. O que você acha?
- Claro. – Respondi. E pela primeira vez na minha vida, percebi que não estava jogando e sim fazendo o que meu corpo e todos os meus sentidos queriam... ELE.
Sem pensar no que ele poderia achar de mim, entramos no meu carro e, ao invés de ir ao hotel que ele havia indicado, levei-o para minha casa.
- Pra onde você tá me levando?! – Ele falou com um sorrisinho malicioso.
- Para a minha casa. – Respondi com convicção, de forma segura e decidida. Eu estava fazendo tudo que queria sem pensar nas conseqüências, sem pensar no depois.
Chegamos rapidamente na minha casa e eu estava saboreando cada segundo ao lado daquele homem perfeito. O que mais me encantava nele, pode parecer estranho já que ele tem o corpo bronzeado, o sorriso e os olhos mais lindos que eu já vi, mas o que realmente me atraiu, desde o primeiro momento foi seu sotaque. Sua voz rouca, seu jeitinho carioca de falar me provocavam demais.
- O que você prefere beber? Cerveja, vodka, vinho... Ou quer continuar no whisky?
- Whisky... pode ser.
Servi dois copos de whisky com energético, pois com certeza iríamos precisar de muuuita energia naquela noite.
Entramos numa conversa gostosa sobre coisas sem importância, ouvindo músicas bem sugestivas. Passado algum tempo (o suficiente para que a conversa não ficasse longa demais), ele deu o primeiro passo. Estávamos sentados no mesmo sofá, um de frente para o outro, de forma confortável. Eu estava com as pernas cruzadas em cima do sofá. Ele foi se aproximando me deu um beijo leve, que durou pouco, pois logo em seguida puxou minhas pernas ao redor de sua cintura, me abraçando com força e me beijando com desejo. Tirou minha blusa lentamente, beijando cada milímetro do meu corpo. Eu estava totalmente à vontade, sem preocupações ou complexos. Queria me entregar a ele. Queria que ele visse e beijasse todo meu corpo. Queria que ele me desejasse. E foi assim. Bem assim. Entramos num ritmo único, como se fôssemos uma mesma batida. Ele, cuidadoso, sexy, forte... na medida. Falando coisas que pareceriam absurdas aos ouvidos dos outros, mas que davam vida ao meu lado mais promíscuo. Eu estava totalmente envolvida, totalmente entregue.
E assim passamos a noite. Envolvidos, enlaçados, enrolados. O cheiro, a pele, o gosto, o suor. Tudo levava a mais uma vez... e mais uma vez, sem parar. Sala, quarto, banheiro e até cozinha. Pausa para um copo d’água. Começa tudo de novo. Já era dia quando ele me puxou levemente para deitar em seu peito. Passava sua mão imensa nos meus cabelos com ternura. Beijou minha testa e disse:
- Nossa. Você é perfeita.
Dei um leve sorriso e agradeci.
- Eu quero você pra sempre. Só que tem um problema.
Sabia. Tenho certeza que é casado. Merda. Pensei, sentindo um frio na barriga.
- Semana que vem tenho que voltar pro Rio. Você precisa ir comigo.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Às vezes até eu ainda me impressionava com a minha capacidade de tentar de novo. De ainda acreditar, de ainda ter paciência, de ainda ter ânimo pra começar o jogo todo do zero, e me apresentar pra um completo desconhecido, me provar diferente do padrão, impressionar... todas essas coisas. Mas naquela noite eu nem pensava nisso. Talvez fosse o efeito da endorfina liberada na aula de spinning, talvez fosse a força do acaso, mas naquele dia eu estava realmente animada, disposta, confiante mesmo. Me arrumei ouvindo uma música alegre, coloquei a primeira roupa que me veio à mente e quando conferi no espelho, me senti linda.
Quando cheguei no bar em que combinamos ele já estava sentado no balcão, com um copo de whisky pela metade, falando com um barman. Sorrindo. Estava mais bonito que nunca. Na verdade, podia ser impressão minha, mas me parecia que ele brilhava. Tinha a real sensação de que todas as pessoas do lugar olhavam, assim como eu, para aqueles dentes branquíssimos e muito certos, para aqueles olhos verde escuros, aquela pele da cor mais bonita que você possa imaginar, tão diferente do branco gelo que cultivávamos, eu e a grande maioria dos moradores dessa cidade gélida e pacata.
De repente eu tive o maior orgulho do mundo. Era por mim que aquele cara tava esperando. O que em outros momentos poderia me causar medo, vergonha ou apreensão, dessa vez me causava a melhor das sensações: borboletas no estômago. Ele me viu e eu juro, parece invenção, mas o rosto dele se iluminou mais ainda. Me sorriu com aqueles dentes perfeitos e se levantou, o que me fez reparar que ele usava uma camisa do tom preferido da minha cor preferida: azul turquesa. Eu preciso dizer o quanto a combinação daquela pele com aquela camisa era perfeita?? Não né.
Eu me vi caminhar até ele como se visse aquela cena de cima, meu vestido um pouco acima dos joelhos parecia flutuar, e meu cabelo magicamente esvoaçou um pouco, obra de uma bendita brisa que veio sei lá de onde, como se o Dono da Festa estivesse dirigindo pessoalmente aquela cena do meu filme.
Quando ele me abraçou e me olhou nos olhos ou ouvi, mas de longe, ainda como se estivesse vendo aquilo de fora, a voz dele falando no tom mais sincero que eu já tinha ouvido: meu Deus, você é muito linda!
E eu, tão acostumada a cantadas, tão descrente, tão formada, escolada e pós-graduada em palhaçadas e joguinhos masculinos em geral, fiz algo que nunca tinha ousado fazer antes, na vida: agradeci o elogio com um beijo. Curto, mas significativo, naquela boca perfeita, naquele rosto perfeito, enquanto aqueles braços dourados me envolviam pela cintura. Sem brincadeira? Eu me senti a Barbie. E todas as preocupações, todos os traumas, complexos e dores do passado se dissiparam antes mesmo que eu pusesse meu copo nos lábios e tomasse meu primeiro gole de Cosmopolitan.
Eu deveria ter medo de um cara perfeito assim. Devia colocar os dois pés atrás, devia me resguardar, aplicar todas as técnicas de auto-controle aprendidas nestes anos de solteirice convicta. Minha filha, ele é carioca, pelo amor de Deus! Te concentra, te segura! Tá, eu acho até que não era tãaao evidente e perceptível assim ao resto do mundo, mas eu estava me sentindo tão bem e tão leve do lado daquele homem. Só me vinha uma música à cabeça, e eu detesto ter que concordar com alguém do naipe da Britney Spears, mas tudo que eu queria dizer pra ele era “a guy like you should wear a warning”, ou “I’m addicted to you, don’t you know that you’re toxic?”. Aaaah, mas é claro que ele sabia. É claro que ele tinha total consciência de seu efeito sob as mulheres, eles sempre têm.
O fato é que, entre copos de whisky e Cosmopolitans, entre assuntos intermináveis, boas risadas, olhares profundos e frases de efeito, a certa altura da noite ele me olhou mais demoradamente e disse: “mas eu sou um idiota mesmo por ter te deixado passar”. E aquela frase era exatamente o que eu tinha pensado de quase todos os caras que já tinha conhecido, era exatamente o que eu me dizia mentalmente e sabia ser verdade: eles são mesmo muito burros por me deixarem passar. E por deixarem passar as minhas amigas, e por não terem a mínima condição de reconhecer uma mulher que vale a pena, mesmo que ela esteja ali paradinha na frente deles. Pensava nisso quando me ouvi dizer: “sim, você é”. E quando vi já tinha falado, e pensei que ele podia não entender, que ele podia me achar uma grossa, que ele iria, certamente, ficar com raiva da minha sinceridade excessiva. Mas ele me olhou sorrindo como sempre, sem se assustar nem um pouco, e disse:

- Prometo que não vai acontecer de novo.
- Eu espero.


Esse seria, em regra, o momento em que eu pararia de falar, olharia pra ele com cara de menina e “ofereceria a boquinha”, como eu e minhas amigas costumamos dizer. Mas não foi preciso. Ele se levantou do banco alto em que estava, se aproximou ao máximo e ficou ali parado de pé em frente ao meu banco alto, as pernas encostando nas minhas. Colocou uma de suas mãos douradas e imensas na curva das minhas costas, a outra no meu queixo, bem de leve. Mas quando me puxou pra si e me beijou, foi com sede. Com uma ânsia e uma luxúria que exalavam também de mim, que davam choque nos pontos de contato entre a gente. Naquele momento tudo que eu desejei na vida foi estar sozinha com aquele homem, não me mostrando pro mundo, flertando com ele num bar, mas com ele e só ele.
E foi aí que ele se aproximou do meu ouvido e disse bem naturalmente:
- Vamos pra algum lugar mais calmo?

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Acordei no dia seguinte com uma ressaca desgraçada. A hora que eu abri o olho, corri loucamente para o meu banheiro, colocando tudo para fora, bem abraçadinha com a minha privada geladinha... parece que eu fiquei horas lá dentro, mas quando eu sai estava novinha em folha, exceto por uma única coisa: A RESSACA MORAL.
Comecei a pensar que desci tão fundo no poço dando um bilhetinho com meu telefone para um barman/garçom que me preocupei com o fato de qual ponto eu era capaz de chegar. Passei o domingo esperando o dito cujo me ligar, mandar mensagem, sinal de fumaça, mas nada aconteceu... então... eu desisti e me rendi aos encantos da TV à cabo.
Segunda-feira, minha semana começou agitada e cheia de trabalho, então não tive tempo de pensar no fato de que mais um homem estava me desprezando, afinal, eu já tinha prática demais nesse assunto para me lamentar, então apenas ignorei o fato.
Os outros dias foram todos passando rapidamente até que quinta-feira, no final do dia, no momento em que eu sai da academia com uma calça desbotada e uma camiseta barata, totalmente suada e cor-de-rosa, com o cabelo preso desgrenhado, resolvi passar no supermercado para comprar alguns alcoólicos, chocolates e comidas prontas. Coisa rápida e cotidiana. Mas foi no momento em que eu estava andando no corredor de iogurtes, buscando uma opção saborosa e calórica que eu levei um susto daqueles.
Eu dei de cara com o barman/garçom. Ele ficou parado na minha frente, olhando bem para minha cara e disse.

- Eu me lembro de você.
- Eu também me lembro de você. Eu te dei meu telefone e você não me ligou - fiquei ainda mais vermelha, mais suada, mais atrapalhada e mais feia.

Ele se desculpou e disse que tinha perdido meu cartão, e eu fiz-de-conta que acreditei. E logo depois veio aquele silêncio, aquele gelo e ele resolveu quebrar fazendo um convite:

- Vamos sair para beber alguma coisa hoje?
- Ah, mas você não tem que trabalhar?
- Ahhh, não. Na verdade eu não trabalho na noite. Eu sou modelo, estava ajudando o meu amigo, que é o dono daquela boate, eu nem sou da cidade, eu sou do Rio.

Estava explicado. Toda aquela beleza, aquele charme, aquele bronzeado tinham que vim de outro lugar. Rio de Janeiro é "hot", eu queria me mudar para lá e ele era meu passaporte. Aceitei sem pensar duas vezes, fui para casa, me arrumei toda e fui à luta naquela noite.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Chegando ao lugar onde seria o aniversário, uma balada super descolada com música boa e gente bonita, avistei minhas inseparáveis amigas, que falavam alto e riam mais alto ainda. Parei para cumprimentar o aniversariante e segui em direção a elas para completar o “trio parada dura”.
- Ai amigas... que bom que vocês estão aqui! Eu estou tentando me convencer de que saí do buraco, mas na verdade estou no fundo do poço mesmo, desesperada por carinho!
- Relaxa! Olha aí quantos gatos dando sopa e você já chega reclamando! Vamos até o bar pegar uma bebida! – Sugeriu minha amiga linda, loira e bem resolvida.
- Isso!!! Vamos beber que amar tá difícil! – Completou minha amiga linda, morena e bem resolvida!
E lá fomos, nós três até o bar. Quando estávamos nos aproximando do garçom, reparei que ele era perfeito! Eu sei que falei que seria só eu, sem jogos, sedução e conquista, mas como resistir?! Ao terminarmos nossos pedidos, três vodkas com energético, surgiram dois homens como se tivessem brotado do chão. Um logo começou a conversar com uma de minhas amigas, enquanto seu amigo já estava encantado com a outra, o que era recíproco.
Ótimo! Pensei. Minhas amigas já eram. Vão me abandonar o resto da noite, sair daqui apaixonadas e em no máximo uma semana vão me encontrar no fundo do poço.
Então o deus grego avisou que os nossos drinques estavam prontos. Não conseguia olhar diretamente para ele, que era o meu príncipe encantado vestido de garçom. Bebemos nossa bebida e fomos dançar. Dancei enlouquecidamente durante muito tempo, enquanto minhas amigas estavam “se entregando ao amor”. E, quando estava pagando a conta, resolvi dar início a nova tentativa desesperada de encontrar minha alma gêmea, pedi a uma de minhas amigas que entregasse um bilhete meu para o garçom.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Passei quase que uma semana inteira tentando definir o que eu realmente pensava e sentia em relação ao acontecido. Tentando separar raiva de desapontamento, desapontamento de frustração, frustração de revolta. Tentando entender porquês, decifrar frases passadas, procurar em cada minuto e cada detalhe algo que pudesse ter me traído. Eu, tão esperta. Eu, tão estudada, esclarecida, iniciada, formada e pós-graduada em palhaçada e falta de vergonha na cara masculina. Tão inteligente, tão perspicaz.... tsc tsc tsc. Não, eu nem uma vez imaginei que ele poderia ser casado. Nem cara, nem aliança, nem postura, nem assuntos... nada de casado. Eu tinha mais cara de casada que ele, e olha que eu me enquadro na categoria very very single do Orkut, (se esta existisse). E nem é que eu me revoltasse com o fato dele trair a mulher, eu já havia definido fidelidade como “qualidade raríssima” a algum tempo. E pra minha maior surpresa, eu, mulher também já traída e enganada, tão feminista em dados momentos, não me conseguia me revoltar com o fato dele ter “me escolhido” pra traí-la, nem conseguia ter ódio dele por ter me enganado também. Só conseguia mesmo ficar perplexa.

A verdade é que ele era um espetáculo de homem. Inesperadamente “competente”, inadvertidamente irresistível. Precisei reunir todo o meu orgulho e toda a minha racionalidade pra ser firme e pra apagar aquele sorriso safado quase infantil da minha cabeça, precisei de toda a resolução do mundo pra não atender o celular quando ele ligou, mais tarde naquela semana. Mas eu não atendi.

O fato é que eu simplesmente me recusava a abaixar a cabeça e me entregar à decepção. Por isso eu resolvi aceitar quando aquela amiga comprometida ligou chamando pro aniversário do namorado. Seria uma boa oportunidade pra rever aquele pessoal que eu não via a muito tempo, pra beber com os amigos sem segundas intenções, pra passar uma noite, ao menos uma, sem procurar alguém.
Só uma calça jeans e uma blusinha preta, sapatilha sem salto, pouca maquiagem. Me olhei no espelho e me senti leve, pela primeira vez em muito tempo. Naquela noite eu podia ser só eu mesma. Sem jogos de conquista e sedução, sem representar nenhum papel, sem caras, sem bocas. Só eu.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Nem sei o que eu senti na hora que eu ouvi aquilo. Acho que o efeito do vinho me deixou um pouco mais devagar do que normalmente, mas demorei cerca de uns 10 segundos para me assustar. Mas quando eu reagi aquela novidade, foi da pior maneira possível. Eu levantei totalmente frenética passando a mão no meu cabelo loucamente, e tentando sussurar de uma forma discreta, porém tenho certeza que qualquer pessoa de todos os prédios vizinhos, seus porteiros, zeladores e seguranças me ouviram em desespero completo falando no sussurro mais alto da história:
- Meu Deus do Céu, o que eu faço agora?!?!
- Você vai ter que sair pela janela.
- Você está doido? Isso aqui é o terceiro andar.
Ele queria que eu saltasse daquela janela para a do apartamento vizinho em uma "operação homem-aranha" que as minhas aptidões físicas não eram capazes de realizar. O máximo que eu ia conseguir era cair lá em baixo e sair na capa de todos os jornais estilo "Tribuna do Crime" com uma foto minha estampada e uma poça de sangue em volta dos meus sedosos cabelos compridos.
Ele insistiu loucamente e eu neguei até o fim, e tudo isso aconteceu em menos de 1 minuto e de repente, eu ainda um pouco descabelada e tonta por causa do efeito do álcool no meu sangue, quando olhamos para porta, tinha uma mulher parada.
Loira (amarelo, na verdade), de cabelo um pouco armado parecendo que ela fazia escova e tinha tomado chuva, pouca maquiagem, uma roupa comum, baixa estatura, sem beleza e nem charme. Nesse momento, nenhuma mulher do mundo teria charme. Ela estava pasma, e de repente começou a falar:
- O que significa isso??? - A voz dela saiu fraca e esganiçada, mas alguns segundos depois ela encheu o pulmão de ar e deu um berro - O QUE SIGNIFICA ISSO, LUIS CLAUDIO?
Eu realmente não sabia de que forma eu deveria reagir, mas na hora que eu escutei a voz daquela mulher e que eu sabia que ela era a mulher dele (na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe), eu fiquei mesmo era com medo. Eu sei que me deu um tremor dos pés a cabeça, minha mão estava gelada e suada e meus olhos estavam se enchendo lágrimas, junto com as minhas bochechas que começaram a corar. Eu tinha certeza que aquela pobre coitada traída, ia pular no meu pescoço com as unhas dela e me matar ali naquela apartamento, depois me jogar pela janela para simular um suícidio, mas não, ela correu na direção dele e eu corri na direção da porta.
Desci as escadas no prédio correndo, passei pelo portão e paradoxalmente eu me senti bem mais segura na rua. Fui caminhando apressada, como se estive no meu exercício matinal, segurando minha bolsa no ombro, meu casaco pendurado na minha mão, quase arrastando no chão. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas eu não sentia como se eu tivesse chorando. Acho que elas eram apenas um reflexo do meu nervosismo.
Comecei a pensar na minha vida amorosa. Ela tinha sido um fracasso desde os meus 10 anos de idade, quando eu levei meu primeiro fora. Depois disso, as coisas só pioraram, os homens me amavam no início, "me queriam para sempre até amanhã". Depois de algumas semanas, a história se repetia, a gente se distanciava, em alguns casos somente eles se distanciavam e pronto, isso era um ponto final na relação. Eu só tinha a oportunidade de viver amores unilaterais. Ou eu me interessava ou ele. Nunca os dois ao mesmo tempo.
E dai eu fico me perguntando: por que isso acontece comigo? Eu sou linda, inteligente e bem humorada. Por que os homens não querem um relacionamente saudável comigo?

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Amor e um pouco de sacanagem.

Ao chegar em seu loft, logo percebi sua real intenção. Não que eu desconhecesse a possibilidade de acontecer algo mais profundo (que palavra bem aplicada!), apenas ignorava a idéia de estar "indo para o abate". Velas, lençóis de seda, uma banheira muito convidativa e tudo mais.
Estava analisando cada detalhe enquanto ele abria uma garrafa de vinho escolhida especialmente para a ocasião. Foi quando vi uma coisa que me chamou a atenção. Era o que minhas amigas chamariam sutilmente de “kit sexo”, que estava sobre uma mesinha posicionada estrategicamente próxima à cama, ao alcance das mãos. O “kit” continha objetos milimetricamente dispostos na seguinte ordem: algemas de pelúcia branca, lenços, um potinho com conteúdo desconhecido, uma garrafa de água, chicletes e preservativos. Confesso que fiquei um pouco tensa.
- No que você está pensando? - Ele perguntou. O engraçado é que os homens só perguntam o que estamos pensando quando realmente não queremos que eles saibam.
- Em nada. - (Resposta óbvia).
- Venha aqui perto. Vamos beber um pouquinho! - Ótimo, era tudo que eu queria... embebedar-me. Pensei, pegando a taça de vinho e bebendo um looongo gole.
Então, segundos depois, foi dado início ao ritual de abate. Ele foi se aproximando até nossos lábios se encontrarem num agradável beijo, suave e calmante. Deixei meus pensamentos e preocupações de lado e me entreguei. Ele tirou meu vestido com uma facilidade assustadora. Enquanto ele desvendava cada milímetro do meu corpo, ouvi barulho de chave vindo da porta.
Claro que minha calma não iria durar muito tempo. Olhei para ele, que me pareceu extremamente nervoso e preocupado.
- O que foi? Que barulho é esse? Você está esperando alguém? – Disparei a perguntar observando sua ansiedade e desespero.
- É minha mulher. Eu sou casado.