Quando cheguei no bar em que combinamos ele já estava sentado no balcão, com um copo de whisky pela metade, falando com um barman. Sorrindo. Estava mais bonito que nunca. Na verdade, podia ser impressão minha, mas me parecia que ele brilhava. Tinha a real sensação de que todas as pessoas do lugar olhavam, assim como eu, para aqueles dentes branquíssimos e muito certos, para aqueles olhos verde escuros, aquela pele da cor mais bonita que você possa imaginar, tão diferente do branco gelo que cultivávamos, eu e a grande maioria dos moradores dessa cidade gélida e pacata.
De repente eu tive o maior orgulho do mundo. Era por mim que aquele cara tava esperando. O que em outros momentos poderia me causar medo, vergonha ou apreensão, dessa vez me causava a melhor das sensações: borboletas no estômago. Ele me viu e eu juro, parece invenção, mas o rosto dele se iluminou mais ainda. Me sorriu com aqueles dentes perfeitos e se levantou, o que me fez reparar que ele usava uma camisa do tom preferido da minha cor preferida: azul turquesa. Eu preciso dizer o quanto a combinação daquela pele com aquela camisa era perfeita?? Não né.
Eu me vi caminhar até ele como se visse aquela cena de cima, meu vestido um pouco acima dos joelhos parecia flutuar, e meu cabelo magicamente esvoaçou um pouco, obra de uma bendita brisa que veio sei lá de onde, como se o Dono da Festa estivesse dirigindo pessoalmente aquela cena do meu filme.
Quando ele me abraçou e me olhou nos olhos ou ouvi, mas de longe, ainda como se estivesse vendo aquilo de fora, a voz dele falando no tom mais sincero que eu já tinha ouvido: meu Deus, você é muito linda!
E eu, tão acostumada a cantadas, tão descrente, tão formada, escolada e pós-graduada em palhaçadas e joguinhos masculinos em geral, fiz algo que nunca tinha ousado fazer antes, na vida: agradeci o elogio com um beijo. Curto, mas significativo, naquela boca perfeita, naquele rosto perfeito, enquanto aqueles braços dourados me envolviam pela cintura. Sem brincadeira? Eu me senti a Barbie. E todas as preocupações, todos os traumas, complexos e dores do passado se dissiparam antes mesmo que eu pusesse meu copo nos lábios e tomasse meu primeiro gole de Cosmopolitan.
Eu deveria ter medo de um cara perfeito assim. Devia colocar os dois pés atrás, devia me resguardar, aplicar todas as técnicas de auto-controle aprendidas nestes anos de solteirice convicta. Minha filha, ele é carioca, pelo amor de Deus! Te concentra, te segura! Tá, eu acho até que não era tãaao evidente e perceptível assim ao resto do mundo, mas eu estava me sentindo tão bem e tão leve do lado daquele homem. Só me vinha uma música à cabeça, e eu detesto ter que concordar com alguém do naipe da Britney Spears, mas tudo que eu queria dizer pra ele era “a guy like you should wear a warning”, ou “I’m addicted to you, don’t you know that you’re toxic?”. Aaaah, mas é claro que ele sabia. É claro que ele tinha total consciência de seu efeito sob as mulheres, eles sempre têm.
O fato é que, entre copos de whisky e Cosmopolitans, entre assuntos intermináveis, boas risadas, olhares profundos e frases de efeito, a certa altura da noite ele me olhou mais demoradamente e disse: “mas eu sou um idiota mesmo por ter te deixado passar”. E aquela frase era exatamente o que eu tinha pensado de quase todos os caras que já tinha conhecido, era exatamente o que eu me dizia mentalmente e sabia ser verdade: eles são mesmo muito burros por me deixarem passar. E por deixarem passar as minhas amigas, e por não terem a mínima condição de reconhecer uma mulher que vale a pena, mesmo que ela esteja ali paradinha na frente deles. Pensava nisso quando me ouvi dizer: “sim, você é”. E quando vi já tinha falado, e pensei que ele podia não entender, que ele podia me achar uma grossa, que ele iria, certamente, ficar com raiva da minha sinceridade excessiva. Mas ele me olhou sorrindo como sempre, sem se assustar nem um pouco, e disse:
- Prometo que não vai acontecer de novo.
- Eu espero.
Esse seria, em regra, o momento em que eu pararia de falar, olharia pra ele com cara de menina e “ofereceria a boquinha”, como eu e minhas amigas costumamos dizer. Mas não foi preciso. Ele se levantou do banco alto em que estava, se aproximou ao máximo e ficou ali parado de pé em frente ao meu banco alto, as pernas encostando nas minhas. Colocou uma de suas mãos douradas e imensas na curva das minhas costas, a outra no meu queixo, bem de leve. Mas quando me puxou pra si e me beijou, foi com sede. Com uma ânsia e uma luxúria que exalavam também de mim, que davam choque nos pontos de contato entre a gente. Naquele momento tudo que eu desejei na vida foi estar sozinha com aquele homem, não me mostrando pro mundo, flertando com ele num bar, mas com ele e só ele.
E foi aí que ele se aproximou do meu ouvido e disse bem naturalmente:
2 comentários:
olá.
primeira vez aqui... vou vasculhar
beijos
olá!!!
adorei o novo espaço...
beijinhos e boa semana!
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