segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ele pagou a conta e, enquanto saíamos do bar, ele perguntou se eu estava de carro.
Sabia... ele não tem carro. Pensei. Tenho a sina de carregar todos os homens por quem me apaixono para cima e para baixo. Tudo bem, por ele tudo bem.
- Sabe, como eu já te falei, sou carioca. Estou aqui há poucos dias e logo voltarei para o Rio. Por isso achei que não valia a pena vir de carro. Mas, se você preferir posso chamar um táxi. Estou hospedado na casa de um amigo, aquele do bar... lembra? Pensei que talvez pudéssemos ir para um hotel que tem lá perto. O que você acha?
- Claro. – Respondi. E pela primeira vez na minha vida, percebi que não estava jogando e sim fazendo o que meu corpo e todos os meus sentidos queriam... ELE.
Sem pensar no que ele poderia achar de mim, entramos no meu carro e, ao invés de ir ao hotel que ele havia indicado, levei-o para minha casa.
- Pra onde você tá me levando?! – Ele falou com um sorrisinho malicioso.
- Para a minha casa. – Respondi com convicção, de forma segura e decidida. Eu estava fazendo tudo que queria sem pensar nas conseqüências, sem pensar no depois.
Chegamos rapidamente na minha casa e eu estava saboreando cada segundo ao lado daquele homem perfeito. O que mais me encantava nele, pode parecer estranho já que ele tem o corpo bronzeado, o sorriso e os olhos mais lindos que eu já vi, mas o que realmente me atraiu, desde o primeiro momento foi seu sotaque. Sua voz rouca, seu jeitinho carioca de falar me provocavam demais.
- O que você prefere beber? Cerveja, vodka, vinho... Ou quer continuar no whisky?
- Whisky... pode ser.
Servi dois copos de whisky com energético, pois com certeza iríamos precisar de muuuita energia naquela noite.
Entramos numa conversa gostosa sobre coisas sem importância, ouvindo músicas bem sugestivas. Passado algum tempo (o suficiente para que a conversa não ficasse longa demais), ele deu o primeiro passo. Estávamos sentados no mesmo sofá, um de frente para o outro, de forma confortável. Eu estava com as pernas cruzadas em cima do sofá. Ele foi se aproximando me deu um beijo leve, que durou pouco, pois logo em seguida puxou minhas pernas ao redor de sua cintura, me abraçando com força e me beijando com desejo. Tirou minha blusa lentamente, beijando cada milímetro do meu corpo. Eu estava totalmente à vontade, sem preocupações ou complexos. Queria me entregar a ele. Queria que ele visse e beijasse todo meu corpo. Queria que ele me desejasse. E foi assim. Bem assim. Entramos num ritmo único, como se fôssemos uma mesma batida. Ele, cuidadoso, sexy, forte... na medida. Falando coisas que pareceriam absurdas aos ouvidos dos outros, mas que davam vida ao meu lado mais promíscuo. Eu estava totalmente envolvida, totalmente entregue.
E assim passamos a noite. Envolvidos, enlaçados, enrolados. O cheiro, a pele, o gosto, o suor. Tudo levava a mais uma vez... e mais uma vez, sem parar. Sala, quarto, banheiro e até cozinha. Pausa para um copo d’água. Começa tudo de novo. Já era dia quando ele me puxou levemente para deitar em seu peito. Passava sua mão imensa nos meus cabelos com ternura. Beijou minha testa e disse:
- Nossa. Você é perfeita.
Dei um leve sorriso e agradeci.
- Eu quero você pra sempre. Só que tem um problema.
Sabia. Tenho certeza que é casado. Merda. Pensei, sentindo um frio na barriga.
- Semana que vem tenho que voltar pro Rio. Você precisa ir comigo.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Às vezes até eu ainda me impressionava com a minha capacidade de tentar de novo. De ainda acreditar, de ainda ter paciência, de ainda ter ânimo pra começar o jogo todo do zero, e me apresentar pra um completo desconhecido, me provar diferente do padrão, impressionar... todas essas coisas. Mas naquela noite eu nem pensava nisso. Talvez fosse o efeito da endorfina liberada na aula de spinning, talvez fosse a força do acaso, mas naquele dia eu estava realmente animada, disposta, confiante mesmo. Me arrumei ouvindo uma música alegre, coloquei a primeira roupa que me veio à mente e quando conferi no espelho, me senti linda.
Quando cheguei no bar em que combinamos ele já estava sentado no balcão, com um copo de whisky pela metade, falando com um barman. Sorrindo. Estava mais bonito que nunca. Na verdade, podia ser impressão minha, mas me parecia que ele brilhava. Tinha a real sensação de que todas as pessoas do lugar olhavam, assim como eu, para aqueles dentes branquíssimos e muito certos, para aqueles olhos verde escuros, aquela pele da cor mais bonita que você possa imaginar, tão diferente do branco gelo que cultivávamos, eu e a grande maioria dos moradores dessa cidade gélida e pacata.
De repente eu tive o maior orgulho do mundo. Era por mim que aquele cara tava esperando. O que em outros momentos poderia me causar medo, vergonha ou apreensão, dessa vez me causava a melhor das sensações: borboletas no estômago. Ele me viu e eu juro, parece invenção, mas o rosto dele se iluminou mais ainda. Me sorriu com aqueles dentes perfeitos e se levantou, o que me fez reparar que ele usava uma camisa do tom preferido da minha cor preferida: azul turquesa. Eu preciso dizer o quanto a combinação daquela pele com aquela camisa era perfeita?? Não né.
Eu me vi caminhar até ele como se visse aquela cena de cima, meu vestido um pouco acima dos joelhos parecia flutuar, e meu cabelo magicamente esvoaçou um pouco, obra de uma bendita brisa que veio sei lá de onde, como se o Dono da Festa estivesse dirigindo pessoalmente aquela cena do meu filme.
Quando ele me abraçou e me olhou nos olhos ou ouvi, mas de longe, ainda como se estivesse vendo aquilo de fora, a voz dele falando no tom mais sincero que eu já tinha ouvido: meu Deus, você é muito linda!
E eu, tão acostumada a cantadas, tão descrente, tão formada, escolada e pós-graduada em palhaçadas e joguinhos masculinos em geral, fiz algo que nunca tinha ousado fazer antes, na vida: agradeci o elogio com um beijo. Curto, mas significativo, naquela boca perfeita, naquele rosto perfeito, enquanto aqueles braços dourados me envolviam pela cintura. Sem brincadeira? Eu me senti a Barbie. E todas as preocupações, todos os traumas, complexos e dores do passado se dissiparam antes mesmo que eu pusesse meu copo nos lábios e tomasse meu primeiro gole de Cosmopolitan.
Eu deveria ter medo de um cara perfeito assim. Devia colocar os dois pés atrás, devia me resguardar, aplicar todas as técnicas de auto-controle aprendidas nestes anos de solteirice convicta. Minha filha, ele é carioca, pelo amor de Deus! Te concentra, te segura! Tá, eu acho até que não era tãaao evidente e perceptível assim ao resto do mundo, mas eu estava me sentindo tão bem e tão leve do lado daquele homem. Só me vinha uma música à cabeça, e eu detesto ter que concordar com alguém do naipe da Britney Spears, mas tudo que eu queria dizer pra ele era “a guy like you should wear a warning”, ou “I’m addicted to you, don’t you know that you’re toxic?”. Aaaah, mas é claro que ele sabia. É claro que ele tinha total consciência de seu efeito sob as mulheres, eles sempre têm.
O fato é que, entre copos de whisky e Cosmopolitans, entre assuntos intermináveis, boas risadas, olhares profundos e frases de efeito, a certa altura da noite ele me olhou mais demoradamente e disse: “mas eu sou um idiota mesmo por ter te deixado passar”. E aquela frase era exatamente o que eu tinha pensado de quase todos os caras que já tinha conhecido, era exatamente o que eu me dizia mentalmente e sabia ser verdade: eles são mesmo muito burros por me deixarem passar. E por deixarem passar as minhas amigas, e por não terem a mínima condição de reconhecer uma mulher que vale a pena, mesmo que ela esteja ali paradinha na frente deles. Pensava nisso quando me ouvi dizer: “sim, você é”. E quando vi já tinha falado, e pensei que ele podia não entender, que ele podia me achar uma grossa, que ele iria, certamente, ficar com raiva da minha sinceridade excessiva. Mas ele me olhou sorrindo como sempre, sem se assustar nem um pouco, e disse:

- Prometo que não vai acontecer de novo.
- Eu espero.


Esse seria, em regra, o momento em que eu pararia de falar, olharia pra ele com cara de menina e “ofereceria a boquinha”, como eu e minhas amigas costumamos dizer. Mas não foi preciso. Ele se levantou do banco alto em que estava, se aproximou ao máximo e ficou ali parado de pé em frente ao meu banco alto, as pernas encostando nas minhas. Colocou uma de suas mãos douradas e imensas na curva das minhas costas, a outra no meu queixo, bem de leve. Mas quando me puxou pra si e me beijou, foi com sede. Com uma ânsia e uma luxúria que exalavam também de mim, que davam choque nos pontos de contato entre a gente. Naquele momento tudo que eu desejei na vida foi estar sozinha com aquele homem, não me mostrando pro mundo, flertando com ele num bar, mas com ele e só ele.
E foi aí que ele se aproximou do meu ouvido e disse bem naturalmente:
- Vamos pra algum lugar mais calmo?