quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Acordei no dia seguinte com uma ressaca desgraçada. A hora que eu abri o olho, corri loucamente para o meu banheiro, colocando tudo para fora, bem abraçadinha com a minha privada geladinha... parece que eu fiquei horas lá dentro, mas quando eu sai estava novinha em folha, exceto por uma única coisa: A RESSACA MORAL.
Comecei a pensar que desci tão fundo no poço dando um bilhetinho com meu telefone para um barman/garçom que me preocupei com o fato de qual ponto eu era capaz de chegar. Passei o domingo esperando o dito cujo me ligar, mandar mensagem, sinal de fumaça, mas nada aconteceu... então... eu desisti e me rendi aos encantos da TV à cabo.
Segunda-feira, minha semana começou agitada e cheia de trabalho, então não tive tempo de pensar no fato de que mais um homem estava me desprezando, afinal, eu já tinha prática demais nesse assunto para me lamentar, então apenas ignorei o fato.
Os outros dias foram todos passando rapidamente até que quinta-feira, no final do dia, no momento em que eu sai da academia com uma calça desbotada e uma camiseta barata, totalmente suada e cor-de-rosa, com o cabelo preso desgrenhado, resolvi passar no supermercado para comprar alguns alcoólicos, chocolates e comidas prontas. Coisa rápida e cotidiana. Mas foi no momento em que eu estava andando no corredor de iogurtes, buscando uma opção saborosa e calórica que eu levei um susto daqueles.
Eu dei de cara com o barman/garçom. Ele ficou parado na minha frente, olhando bem para minha cara e disse.

- Eu me lembro de você.
- Eu também me lembro de você. Eu te dei meu telefone e você não me ligou - fiquei ainda mais vermelha, mais suada, mais atrapalhada e mais feia.

Ele se desculpou e disse que tinha perdido meu cartão, e eu fiz-de-conta que acreditei. E logo depois veio aquele silêncio, aquele gelo e ele resolveu quebrar fazendo um convite:

- Vamos sair para beber alguma coisa hoje?
- Ah, mas você não tem que trabalhar?
- Ahhh, não. Na verdade eu não trabalho na noite. Eu sou modelo, estava ajudando o meu amigo, que é o dono daquela boate, eu nem sou da cidade, eu sou do Rio.

Estava explicado. Toda aquela beleza, aquele charme, aquele bronzeado tinham que vim de outro lugar. Rio de Janeiro é "hot", eu queria me mudar para lá e ele era meu passaporte. Aceitei sem pensar duas vezes, fui para casa, me arrumei toda e fui à luta naquela noite.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Chegando ao lugar onde seria o aniversário, uma balada super descolada com música boa e gente bonita, avistei minhas inseparáveis amigas, que falavam alto e riam mais alto ainda. Parei para cumprimentar o aniversariante e segui em direção a elas para completar o “trio parada dura”.
- Ai amigas... que bom que vocês estão aqui! Eu estou tentando me convencer de que saí do buraco, mas na verdade estou no fundo do poço mesmo, desesperada por carinho!
- Relaxa! Olha aí quantos gatos dando sopa e você já chega reclamando! Vamos até o bar pegar uma bebida! – Sugeriu minha amiga linda, loira e bem resolvida.
- Isso!!! Vamos beber que amar tá difícil! – Completou minha amiga linda, morena e bem resolvida!
E lá fomos, nós três até o bar. Quando estávamos nos aproximando do garçom, reparei que ele era perfeito! Eu sei que falei que seria só eu, sem jogos, sedução e conquista, mas como resistir?! Ao terminarmos nossos pedidos, três vodkas com energético, surgiram dois homens como se tivessem brotado do chão. Um logo começou a conversar com uma de minhas amigas, enquanto seu amigo já estava encantado com a outra, o que era recíproco.
Ótimo! Pensei. Minhas amigas já eram. Vão me abandonar o resto da noite, sair daqui apaixonadas e em no máximo uma semana vão me encontrar no fundo do poço.
Então o deus grego avisou que os nossos drinques estavam prontos. Não conseguia olhar diretamente para ele, que era o meu príncipe encantado vestido de garçom. Bebemos nossa bebida e fomos dançar. Dancei enlouquecidamente durante muito tempo, enquanto minhas amigas estavam “se entregando ao amor”. E, quando estava pagando a conta, resolvi dar início a nova tentativa desesperada de encontrar minha alma gêmea, pedi a uma de minhas amigas que entregasse um bilhete meu para o garçom.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Passei quase que uma semana inteira tentando definir o que eu realmente pensava e sentia em relação ao acontecido. Tentando separar raiva de desapontamento, desapontamento de frustração, frustração de revolta. Tentando entender porquês, decifrar frases passadas, procurar em cada minuto e cada detalhe algo que pudesse ter me traído. Eu, tão esperta. Eu, tão estudada, esclarecida, iniciada, formada e pós-graduada em palhaçada e falta de vergonha na cara masculina. Tão inteligente, tão perspicaz.... tsc tsc tsc. Não, eu nem uma vez imaginei que ele poderia ser casado. Nem cara, nem aliança, nem postura, nem assuntos... nada de casado. Eu tinha mais cara de casada que ele, e olha que eu me enquadro na categoria very very single do Orkut, (se esta existisse). E nem é que eu me revoltasse com o fato dele trair a mulher, eu já havia definido fidelidade como “qualidade raríssima” a algum tempo. E pra minha maior surpresa, eu, mulher também já traída e enganada, tão feminista em dados momentos, não me conseguia me revoltar com o fato dele ter “me escolhido” pra traí-la, nem conseguia ter ódio dele por ter me enganado também. Só conseguia mesmo ficar perplexa.

A verdade é que ele era um espetáculo de homem. Inesperadamente “competente”, inadvertidamente irresistível. Precisei reunir todo o meu orgulho e toda a minha racionalidade pra ser firme e pra apagar aquele sorriso safado quase infantil da minha cabeça, precisei de toda a resolução do mundo pra não atender o celular quando ele ligou, mais tarde naquela semana. Mas eu não atendi.

O fato é que eu simplesmente me recusava a abaixar a cabeça e me entregar à decepção. Por isso eu resolvi aceitar quando aquela amiga comprometida ligou chamando pro aniversário do namorado. Seria uma boa oportunidade pra rever aquele pessoal que eu não via a muito tempo, pra beber com os amigos sem segundas intenções, pra passar uma noite, ao menos uma, sem procurar alguém.
Só uma calça jeans e uma blusinha preta, sapatilha sem salto, pouca maquiagem. Me olhei no espelho e me senti leve, pela primeira vez em muito tempo. Naquela noite eu podia ser só eu mesma. Sem jogos de conquista e sedução, sem representar nenhum papel, sem caras, sem bocas. Só eu.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Nem sei o que eu senti na hora que eu ouvi aquilo. Acho que o efeito do vinho me deixou um pouco mais devagar do que normalmente, mas demorei cerca de uns 10 segundos para me assustar. Mas quando eu reagi aquela novidade, foi da pior maneira possível. Eu levantei totalmente frenética passando a mão no meu cabelo loucamente, e tentando sussurar de uma forma discreta, porém tenho certeza que qualquer pessoa de todos os prédios vizinhos, seus porteiros, zeladores e seguranças me ouviram em desespero completo falando no sussurro mais alto da história:
- Meu Deus do Céu, o que eu faço agora?!?!
- Você vai ter que sair pela janela.
- Você está doido? Isso aqui é o terceiro andar.
Ele queria que eu saltasse daquela janela para a do apartamento vizinho em uma "operação homem-aranha" que as minhas aptidões físicas não eram capazes de realizar. O máximo que eu ia conseguir era cair lá em baixo e sair na capa de todos os jornais estilo "Tribuna do Crime" com uma foto minha estampada e uma poça de sangue em volta dos meus sedosos cabelos compridos.
Ele insistiu loucamente e eu neguei até o fim, e tudo isso aconteceu em menos de 1 minuto e de repente, eu ainda um pouco descabelada e tonta por causa do efeito do álcool no meu sangue, quando olhamos para porta, tinha uma mulher parada.
Loira (amarelo, na verdade), de cabelo um pouco armado parecendo que ela fazia escova e tinha tomado chuva, pouca maquiagem, uma roupa comum, baixa estatura, sem beleza e nem charme. Nesse momento, nenhuma mulher do mundo teria charme. Ela estava pasma, e de repente começou a falar:
- O que significa isso??? - A voz dela saiu fraca e esganiçada, mas alguns segundos depois ela encheu o pulmão de ar e deu um berro - O QUE SIGNIFICA ISSO, LUIS CLAUDIO?
Eu realmente não sabia de que forma eu deveria reagir, mas na hora que eu escutei a voz daquela mulher e que eu sabia que ela era a mulher dele (na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe), eu fiquei mesmo era com medo. Eu sei que me deu um tremor dos pés a cabeça, minha mão estava gelada e suada e meus olhos estavam se enchendo lágrimas, junto com as minhas bochechas que começaram a corar. Eu tinha certeza que aquela pobre coitada traída, ia pular no meu pescoço com as unhas dela e me matar ali naquela apartamento, depois me jogar pela janela para simular um suícidio, mas não, ela correu na direção dele e eu corri na direção da porta.
Desci as escadas no prédio correndo, passei pelo portão e paradoxalmente eu me senti bem mais segura na rua. Fui caminhando apressada, como se estive no meu exercício matinal, segurando minha bolsa no ombro, meu casaco pendurado na minha mão, quase arrastando no chão. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas eu não sentia como se eu tivesse chorando. Acho que elas eram apenas um reflexo do meu nervosismo.
Comecei a pensar na minha vida amorosa. Ela tinha sido um fracasso desde os meus 10 anos de idade, quando eu levei meu primeiro fora. Depois disso, as coisas só pioraram, os homens me amavam no início, "me queriam para sempre até amanhã". Depois de algumas semanas, a história se repetia, a gente se distanciava, em alguns casos somente eles se distanciavam e pronto, isso era um ponto final na relação. Eu só tinha a oportunidade de viver amores unilaterais. Ou eu me interessava ou ele. Nunca os dois ao mesmo tempo.
E dai eu fico me perguntando: por que isso acontece comigo? Eu sou linda, inteligente e bem humorada. Por que os homens não querem um relacionamente saudável comigo?

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Amor e um pouco de sacanagem.

Ao chegar em seu loft, logo percebi sua real intenção. Não que eu desconhecesse a possibilidade de acontecer algo mais profundo (que palavra bem aplicada!), apenas ignorava a idéia de estar "indo para o abate". Velas, lençóis de seda, uma banheira muito convidativa e tudo mais.
Estava analisando cada detalhe enquanto ele abria uma garrafa de vinho escolhida especialmente para a ocasião. Foi quando vi uma coisa que me chamou a atenção. Era o que minhas amigas chamariam sutilmente de “kit sexo”, que estava sobre uma mesinha posicionada estrategicamente próxima à cama, ao alcance das mãos. O “kit” continha objetos milimetricamente dispostos na seguinte ordem: algemas de pelúcia branca, lenços, um potinho com conteúdo desconhecido, uma garrafa de água, chicletes e preservativos. Confesso que fiquei um pouco tensa.
- No que você está pensando? - Ele perguntou. O engraçado é que os homens só perguntam o que estamos pensando quando realmente não queremos que eles saibam.
- Em nada. - (Resposta óbvia).
- Venha aqui perto. Vamos beber um pouquinho! - Ótimo, era tudo que eu queria... embebedar-me. Pensei, pegando a taça de vinho e bebendo um looongo gole.
Então, segundos depois, foi dado início ao ritual de abate. Ele foi se aproximando até nossos lábios se encontrarem num agradável beijo, suave e calmante. Deixei meus pensamentos e preocupações de lado e me entreguei. Ele tirou meu vestido com uma facilidade assustadora. Enquanto ele desvendava cada milímetro do meu corpo, ouvi barulho de chave vindo da porta.
Claro que minha calma não iria durar muito tempo. Olhei para ele, que me pareceu extremamente nervoso e preocupado.
- O que foi? Que barulho é esse? Você está esperando alguém? – Disparei a perguntar observando sua ansiedade e desespero.
- É minha mulher. Eu sou casado.